sexta-feira, 15 de março de 2013

O Casal


Fotografia de stock: Couples feet dangle from dock above tranquil…


Feminino e Masculino são duas forças, duas qualidades distintas que habitam nossa alma. Não tem relação com o sexo. Simbolicamente existe em nós um homem e uma mulher que se relacionam, que se casam e tem um filho, que brigam e fazem as pazes. Simbolicamente. 

Eu passei por uma transformação que foi desencadeada e guiada pela gestação, o parto e o puerpério do Pedro. Meu corpo tomou a frente da minha existência. Tudo parou do lado de fora para que dentro pudesse haver uma movimentação na intensidade de terremotos e vulcões. Para que a Morte dançasse sobre meu ser nu, desfeito, sem máscaras. Enquanto meu filho se formava em mim, enquanto meu ventre pulsava com vida, a mais pura energia da vida e da criação, meu casal interno lutava, um contra o outro, num tango frenético de dor, de destruição, de desconstrução. 

A mulher em mim estava perdida na velocidade das coisas, não corria nem ficava. Não queria se entregar no rio da vida, tinha medo de ser levada sem saber pra onde. Não sabia nada sobre entrega. A mulher em mim esperava algo, e a agonia da espera e o prazer do sofrimento eram maiores que o desejo de liberdade. 

O homem em mim estava com raiva, quieto, se sentia dispensado pela mulher em mim. Ele queria falar mas só gritava, ele queria agir, mas só dançava, ele queria amar, mas só calava. E sua raiva e seu orgulho não permitiam que nada ficasse fora do lugar. 

Ninguém tinha espaço nem voz.  Muito do que era meu se desfez diante da força do meu corpo, muito ruiu, mais um tanto se desorganizou. Não há maior bênção do que a Morte. A partir deste mergulho interno pude me reinventar, agora mãe. Agora mulher. Passei por um portal que esta experiência me abriu, e só agora me sinto mulher. 

E foi a maternidade que me trouxe isso, não foi o sexo, não foi o casamento, não foi o trabalho nem a formatura. Não foi uma viagem, ou uma conversa, ou sair da casa dos meus pais. Foi quando meu corpo parou para gerar, parir e nutrir meu filho, foi assim que eu me tornei mulher. Foi assim que o casal em mim escutou um ao outro, se tornaram irmãos, depois amantes, depois pai e mãe, depois se tornaram a pessoa que sou. 

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