domingo, 24 de março de 2013

Comer Amar



Amanhã fazemos seis meses de aleitamento materno exclusivo. Catorze meses construindo um corpo humano. Durante este tempo, o meu filho se nutriu do meu corpo. O primeiro alimento não é só de nutrir o corpo, é de nutrir todos os aspectos do Ser. O seio não é apenas fonte de nutrientes, é a fonte da Vida. É de onde jorra leite, amor, abraço, afago, cheiro, pulsação, voz, olhar, segurança. Se alimentar não é apenas saciar o estômago, desde o início da formação das nossas conexões cerebrais, desde que começamos a entender o que é alimento. Comer é prazer, por que sempre foi, desde a nossa primeira engolida no leite. Comer é segurança, conforto, é receber amor. É um ato cultural, social, permeado de significados, memórias de sensações. 
Quando começamos a introduzir outros alimentos na dieta do bebê, o comer tem todo este potencial de prazer, de ser um ato que revive a sensação do Materno. Mas na manutenção de um ciclo de relação ruim com a comida, mediada pela valorização do artificial, pela falta da manutenção e desenvolvimento da saúde, pelo culto ao corpo padronizado e forjado artificialmente, nós não sabemos deixar que nossas crianças comecem a comer, e não sabemos lidar com a maneira infantil de comer. 
Talvez cada bebê tenha uma maneira e um tempo para começar a se alimentar de outras fontes que não sua mãe, e tenha também seu tempo de abandonar de vez o peito. Talvez nosso papel seja sugerir alimentos, quantidades, contextos e maneiras diferentes de comer e deixar que eles, através da busca natural por prazer, escolham sua forma de comer. E que mudem. Nosso papel seria, então, não atrapalhar a relação já formada entre comida e prazer. Imagino que assim, as relações entre comida, corpo, saúde e prazer seriam permeadas por liberdade, aceitação, responsabilidade. Estaríamos indo contra todo o "sistema", permitindo o desenvolvimento de pessoas livres.   

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