
Estou em pé diante da porta. Eu sei o que
tem lá dentro: primeiros dentinhos do Pê, novas tatuagens com significados
intensos, volta aos estudos, começo de um novo trabalho, saída do trabalho
anterior, retomada de uma rotina de exercícios, introdução de alimentos na vida
do pequeno.
Sei o que tem aqui fora: uma mulher de barro, feita e refeita no
forno pela gravidez, pelo parto, pelo filho, pelo leite jorrando do peito,
pelos muitos encontros internos. Aqui fora sou três: uma criança, uma mãe, e
uma velha. Sou a bruxa que nunca fez um feitiço.
O que eu desconheço e me deixa
aqui com os olhos arregalados olhando pra porta é como vai ser o encontro da
mulher de barro com a novidade viva, pulsante, orgânica, fluida. Quero saber usufruir sem guerra, sem estraçalhar
ninguém. Quero a sereia inteira, que ela cante pra mim, que me beije com
paixão, me carregue com ternura. Não quero comer do seu rabo, quero que ela me
ajude a plantar, colher e preparar. Quero que ela me ensine a amá-la e a
deixá-la ir quando for a hora, quando eu estiver diante de outra grande porta
como essa, com calma e com o coração aberto pro próximo ser mágico que me
vier.
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