
Por
Marianne Lima M.
Eu, senhora do meu destino, rainha do meu caminho, xamã das minhas curas, mãe
das minhas escolhas, preta-velha das minhas preces, santa das minhas orações,
militante da minha história. Eu, sangue do meu
punho, me descubro no calvário e martírio de ser além da mulher, além do homem.
O peso de ser humanidade. Me faço e me faço a cada trajeto, a cada esquina, a
cada parada. Me refaço no coração e na mente. Me refaço no riso e na lágrima.
Me refaço na dor e no êxtase da vida. Me refaço na pele e nas entranhas. Me sou
estranha. Às vésperas do século do meu nascimento, esta nova eu me fala como
sábia, porque é sábia, que tudo é parte da história que não é só minha, é de
todos nós. É a história das minhas descobertas de mim, é a história do meu eu
no outro, do outro em mim, história humana, poetizada nos versos da emancipação
feminina, e da masculina. Eu, sedenta de prazer e poço legítimo de desejos
libertários, quero mais! Quero desbravar o mundo, desbravar o âmago, desbravar
minhas possibilidades. Incendiar a discórdia. Incomodar! Musa do desatino, da
contradição! Inatingível, frágil, insaciável... Quero pintar num quadro vivo da
minha forma disforme o relexo dessa sociedade hipócrita, que também está
inteira em mim, que me contém, que me engole, e a qual eu engulo, como,
mastigo. “Não seja!”, “Não faça!” “Não transe!” “Não ame!” “Não queira!” “Não
questione!” “Não vá!”. Mas eu fui, do verbo ir. Eu fui, do verbo sou. Eu vou do
verbo posso ser. Ser o que não conheço, mas reconheço, e desconheço. Pois é um
outro começo de mim... Em que me vejo madura, certeira, serena e destemida.
Numa insurgência interna, uma auto-insurgência, que se encontra na plenitude
com a tua. E se funde como uma só. Uma plena insurgência! Venha minha nova
era... Revolucione! Sinta latejar no teu ventre as possibilidades das tuas
asas, da tua força, dos teus pulmões, do teu céu, do teu bando. Sinta o sal das
tuas lágrimas escreverem triste e alegremente no teu rosto “Amor!”. Sinta o
movimento dos teus quadris, daquele que sente e do que proclama, recitarem
“Livre!”. Sinta o brilho dos teus olhos exclamar “Vida!”. Mal posso esperar
para sentir meus mistérios doces sorrirem nos teus lábios maliciosos. Mal posso
esperar para degustar o gosto do mel sedutor da nossa saliva. Mal posso esperar
para te encontrar, e nos ouvir dizer:
- Prazer, Primavera!
Marianne Lima Martins
OH! Passei mal, aqui! Que lindo!!!!
ResponderExcluirGosto muito desse texto e acho que retrata o sentimento de muitas mulheres que buscam, de diferentes formas e por diferentes caminhos, serem livres.
ResponderExcluirValeu a divulgação Pati!